segunda-feira, 16 de junho de 2014

O tempo não perdoa as consequências



                     


Para: Louis

Despeço-me, após muitos anos. Desfaço os nossos laços, após muitas estações. Desprendo-me da necessidade de revirar o nosso baú sempre que as memórias visitam a minha mente. Partiste deixando no ar o teu perfume. Porque? Porque deixaste lembranças? Quem parte com convicção não deixa para trás trechos que o fariam voltar. Inquietas-me porque não sei para que direcção caminhar. Vou à esquerda e deparo-me com o futuro. Um futuro com novas oportunidades profissionais e/ou amorosas. Vou à direita e vejo a minha paixão artística: a escrita. Vejo crianças com sede de aprender a ler para assim saborearem os contos de fada sem a ajuda de um adulto. Mas, tenho uma história inacabada que impede-me de progredir. Mantenho-me estática na indecisão sobre a tua volta. 

Teu olhar sobre mim era único. Ensinaste-me a observar antes de falar. Levei tempo a aprender pois gostava de irritar-te com as minhas brincadeiras fora de hora. Elogiavas detalhes que eu não notava em mim: o meu sorriso bobo, a forma do meu queixo e o meu gingado. ‘’Mon amour Louis’’, tal como eu te chamava. Tinhamos planos de ir à Paris viver momentos parecidos com os romances de Shakespeare. Mas, partiste sem disfarce. Te apaixonaste por uma outra mulher e te deixaste levar pelas ilusões. O tempo, com o seu poder certeiro, trouxe-te ao arrependimento mas já muito tarde.'

Aos 15 de Agosto de 1856


Para: Minha Eterna Yolanda

Encontrar-te-ei...
Em algum lugar, algum canto deste mundo, porque alguma memória, ainda que pequena em ti restou. Não me condenes, meu tão fiel e crente espírito prefere viver pela fé.
Um dia.. Algum dia, mesmo que surgido do acaso irei fitar-te novamente no profundo dos teus olhos negros e chorarei novamente todas as lágrimas que guardei petrificadas no meu peito.
Eterna és...
Doce, gentil, meiga, mulher, menina...
Luz é o teu sobrenome!
Morte é o preço do meu corpo entregue e condenado à depender de ti
Penaliza-me em não mais viver, mas não penaliza-me de viver sem ti

Pois todo anoitecer, sinto a lua zombar de mim...
Recordando os amores perdidos, despertando as paixões impossíveis

Pela fé eu vivo, e em algum canto, algum lugar, um momento, um segundo
Voltarás para mim
O peso de uma palavra dita comparada ao feito nada serve..
Mas ainda assim.. Perdoa-me!

Aos 27 de Agosto de 1856