Para: Louis
Despeço-me, após muitos anos. Desfaço os nossos laços, após muitas
estações. Desprendo-me da necessidade de revirar o nosso baú sempre que as memórias
visitam a minha mente. Partiste deixando no ar o teu perfume. Porque? Porque
deixaste lembranças? Quem parte com convicção não deixa para trás trechos que o
fariam voltar. Inquietas-me porque não sei para que direcção caminhar. Vou à
esquerda e deparo-me com o futuro. Um futuro com novas oportunidades
profissionais e/ou amorosas. Vou à direita e vejo a minha paixão artística: a
escrita. Vejo crianças com sede de aprender a ler para assim saborearem os
contos de fada sem a ajuda de um adulto. Mas, tenho uma história inacabada que
impede-me de progredir. Mantenho-me estática na indecisão sobre a tua volta.
Teu olhar sobre mim era único. Ensinaste-me a observar antes de falar.
Levei tempo a aprender pois gostava de irritar-te com as minhas brincadeiras
fora de hora. Elogiavas detalhes que eu não notava em mim: o meu sorriso bobo, a
forma do meu queixo e o meu gingado. ‘’Mon amour Louis’’, tal como eu te chamava.
Tinhamos planos de ir à Paris viver momentos parecidos com os romances de Shakespeare.
Mas, partiste sem disfarce. Te apaixonaste por uma outra mulher e te deixaste levar
pelas ilusões. O tempo, com o seu poder certeiro, trouxe-te ao arrependimento mas
já muito tarde.'
Aos 15 de Agosto de 1856
Para: Minha Eterna Yolanda
Encontrar-te-ei...
Em algum lugar, algum canto
deste mundo, porque alguma memória, ainda que pequena em ti restou. Não me
condenes, meu tão fiel e crente espírito prefere viver pela fé.
Um dia.. Algum dia, mesmo
que surgido do acaso irei fitar-te novamente no profundo dos teus olhos negros
e chorarei novamente todas as lágrimas que guardei petrificadas no meu peito.
Eterna és...
Doce, gentil, meiga,
mulher, menina...
Luz é o teu sobrenome!
Morte é o preço do meu
corpo entregue e condenado à depender de ti
Penaliza-me em não mais
viver, mas não penaliza-me de viver sem ti
Pois todo anoitecer, sinto
a lua zombar de mim...
Recordando os amores
perdidos, despertando as paixões impossíveis
Pela fé eu vivo, e em algum
canto, algum lugar, um momento, um segundo
Voltarás para mim
O peso de uma palavra dita
comparada ao feito nada serve..
Mas ainda assim.. Perdoa-me!
Aos 27 de Agosto de 1856